sexta-feira, 28 de março de 2008

Dias típicos de seres iguais a mim

Bem vindos ao meu estranho mundo...sim, acredito na boa educação e em todos os sentidos! Por isso, sejam “Bem-vindos”...mas talvez antes de avançar muito mais, apenas uma pequena placa de aviso:

Atenção: É estranho! Muito Estranho, mesmo!

Aqui, é quando o dia é noite, e a lua é confundida com o sol...o bizarro acontece, mas numa ocorrência quase diária, ou pelo menos sempre que saio de casa e planeio!
É quase como se entrasse num “Twilight Zone”, onde nada é o que parece e tudo pode acontecer. E quando digo tudo, refiro-me mesmo a tudo, sem recurso a qualquer expressão metafórica, aqui nada é inventado...é tudo inteiramente verídico...e o real, meus amigos, de onde eu venho é realmente surreal!

Todos os dias são para mim uma aventura e para a aventura, não me preciso de me esforçar muito, nem sequer de ir para muito longe!

Portanto, comecemos por Setúbal:

Estava um lindo dia de sol...bom na verdade, talvez o sol só tivesse emergido um pouco mais tarde e inicialmente até estivesse um céu um tanto nublado, com nuvens que ora vêm e vão, que ameaçam chover e conseguem confundir, mas de uma forma geral e para simplificar, o dia brilhava!
Já estava pois, programado para esta quarta feira, juntamente com a minha irmã, uma caminhada pelo Parque natural da serra da Arrábida!
Ora bem, só vos quero brevemente explicar que nada mais me fascina que as montanhas e as praias, portanto julgo que facilmente conseguem imaginar o estado felicidade suprema em que me encontrava pela bela e doce combinação dos dois!
Dificuldades? Bom para além dos transportes, considerando que vivo em Lisboa, algures nos arredores, nos subúrbios...nenhuma mais a acrescentar!
Ora, a minha mãe ainda consegue ter algum poder naquilo que faço e planeio e conhecendo-a como conheço (provavelmente começaria a inventar um monte situações caricatas e catastróficas sobre duas meninas perdidas na serra da Arrábida, amedrontadas, atacadas por lobos e esfomeadas e tudo isto imaginado pelo seu instinto maternal e da experiência que faz dela mais sábia que nós), por isso resolvi claro não lhe dizer para onde íamos, para atenuar o drama...julguei que assim seria mais pacífico. No entanto, lá aproveitamos uma boleiazita até ao Parque das Nações, onde esperámos pacientemente pelo Autocarro 562, que nos levaria ao centro da cidade de Setúbal (amavelmente concedida a informação, para quem quiser repetir a proeza). Depois, de mapa na mão e destino traçado, lá fomos assim que chegámos à cidade, pela Praça de Bocage...







...tentamo-nos orientar o melhor que podíamos pelo mapa extraído do google maps(publicidade, porque é uma bela fonte para quem necessita de mapas), as fotografias que íamos tirando pelo caminho e pelos simpáticos habitantes de Setúbal, que gentilmente iam fornecendo indicações. Parámos frequentemente pelas ruas, porque confesso-vos, tenho uma pequena obsessãozinha por esculturas e estátuas e elas até estavam espalhadas por quase todo o sítio.













Não aponto nenhuma razão específica por tal deslumbre, apenas considero-as simplesmente fascinantes...toda aquela forma e pequenos detalhes cativam-me e hipnotizam-me de tal forma... que chego mesmo a perder-me no tempo e espaço. Vejo e emociono-me, ganham vida...e desejo conhecê-las, estar com elas, transpor-me ao seu mundo, consolá-las, abraça-las, rir-me, chorar com elas e tornar-me personagem da história delas...para todos os amantes de arte (talvez me entendam). De resto, até foi uma viagem muito pouco conturbada. Assim, que demos pela Estrada da Rasca (sim, é mesmo esse o nome da estrada, nós Portugueses, somos hilariantes no que toca a dar nomes às coisas, mas isso já é outra conversa!), o mapa deixou de ser necessário, o caminho era único e para ser seguido sempre em frente...o que nos forneceu uma pequena liberdade para irmos fazendo paragens de vez em quando e tirar fotos de tudo quanto nos deparávamos, com a paisagem lindíssima que provocaria inveja a qualquer um. Parei em várias zonas perto da costa e havia a separar do mar uma fronteira em forma de rampa. Achei que seria o local ideal para tirar fotos espectaculares e artísticas...o meu pensamento ás vezes consegue ser realmente fulminante...e lá estava eu armada em heroína, com as minhas posses espectaculares...quando escorreguei pela rampa abaixo, conseguindo agarrar-me a tempo de modo a que apenas os meus sapatos tivessem ficado molhados.





Foi ridículo como é óbvio e não recomendo a ninguém, mas lá nos rimos um pouco e convenci-me a mim própria que era finalmente altura de seguir pela serra acima sem parar.
Houve, no entanto, uma estátua num jardim próximo, que particularmente me fascinou – A Homenagem ao Homem do Mar – não sei se me compreendem, mas considero-me quase como uma criatura do mar, adoro-o...e julgo que ele me adora a mim! Por isso, vi-me obrigada a tirar um milhão de fotografias àquela homenagem(utilizando agora aqui o eufenismo), mas pelo menos senão um milhão, o máximo de fotografias, de todos os ângulos possíveis até que o meu fascínio pudesse ser plenamente atendido e satisfeito.









Ao pé de nós, estavam também sentados dois sujeitos a comer o seu almoço, tinham um aspecto um tanto descuidado, pareciam um tanto gangsters até, mas nem isso me incomodou na minha sessão fotográfica. E tinha eu por acaso um casaco...preto, tal como eu gosto, com dois bolsos de lado, onde havia colocado o meu telemóvel, talvez até de uma forma descuidada. Quis tirá-lo, porque sem casaco, por vezes uma pessoa até fica bastante mais formosa na fotografia...e pronto! Lá partimos novamente pela serra acima...até que, enquanto pelo caminho íamos sendo assediadas pelas buzinadelas dos condutores um pouco menos inteligentes, a minha irmã relativamente chateada pergunta-me pelas horas (julgo que estava a ficar impaciente). Basicamente, o telemóvel para mim, quando não estou na universidade ou com amigos, apenas me cumpre duas funções: de relógio e alarme para despertar! E foi assim que o mundo de repente, subtilmente, começou a dar uma reviravolta...o telémovel tinha desaparecido...muito provavelmente caído do bolso! A questão seria...onde?! Bom, eu não sou nenhum Serlock Holmes, mas tudo indicava que teria que percorrer novamente todo o meu caminho traçado de volta até à última vez que havia tirado o meu casado! Á medida que ia regressando e sem sinais de telemóvel, cada vez ficava mais convencida, que tinha perdido o meu telemóvel no Jardim, ao pé da estátua da Homenagem ao Homem do Mar. E se lá não estivesse em parte alguma, então restaria apenas uma única possibilidade – haveria sido roubado! E por quem? Bom, os únicos suspeitos seriam os dois homens que lá estavam sentados, porque até tinha reparado, antes de me ter ido embora, que estes também se tinham levantado logo depois de nós para tirar fotografias com a estátua. Quando lá cheguei, o telemóvel permanecia desaparecido...e a pequena esperança e ingenuidade, de que este mundo até poderia ter pessoas simpáticas e atenciosas foi rapidamente consumida pelo desespero! Nesse jardim, reparei que estavam outras pessoas, talvez alguns dos quais jardineiros, aos quais me ocorreu perguntar-lhes se por acaso não tinham avistado um telemóvel perdido! Um deles demonstrou-se bastante amável, contou-me logo que também tinha perdido o seu telemóvel na semana anterior, mas que por sorte, uma alma caridosa o veio entregar. Disse-me: Vou tentar telefonar para o teu telemóvel, talvez a pessoa ganhe um pouco de consciência e o queira vir devolver. Mas nada, ele telefonava e cada vez que o fazia, desligavam...foi nesse preciso momento que perdi toda a minha esperança! Já não havia nada a fazer! A primeira coisa que me veio à cabeça era que tinha que avisar a minha mãe, mas pensei logo que ela não iria achar piada nenhuma, que eu tinha ido para setúbal sem a avisar e ainda por cima ter perdido o meu telemóvel, que posteriormente havia sido roubado! Havia algo neste cenário que me perturbava muito mais do que o próprio roubo. Para além disso, não era bem o telemóvel desaparecido que me preocupava, mas mais o trabalho que me iria dar a avisar toda a gente e os contactos que iria perder para sempre (porque simplesmente não os guardo numa agenda – que aborrecimento!).
E lá fui eu há procura de uma cabine telefónica, para poder avisar a minha mãe (ao menos tinha a minha carteira, ufa!). Fui até ao centro da cidade e muito curiosamente deparei-me com uma cabine que tinha um local para colocar moedas sem qualquer abertura...não compreendi logo, mas por de trás apareceu um senhor responsável por tirar o dinheiro destas cabines, que nos avisou que estava encravada. Mandou-nos atravessar a praça, que do outro lado haveria uma outra cabine. Acontece que esta também estava encrava (claro, como não podia deixar de ser...era simplesmente um daqueles dias, que mmmhh!!!). Outro senhor, um cidadão que passou por nós e viu que estavamos aflitas, tentou-nos ajudar, foi muito prestável, mas nada conseguiu fazer...o primeiro senhor (recolector das moedas da cabine) viu também que estavamos em apuros e foi ter na nossa direcção. “Essa também está encravada é?” – disse. E lá começou aos murros na máquina, até que as moedas que estavam a encravar saíram. O segundo homem, o bom cidadão, exclamou: Bom, agora já podem telefonar!, ao que o recolector disse: “Não, não podem, esta máquina ainda está encravada e não vai aceitar as moedas!”. Pois, mas não faz mal tentar! –disse o cidadão. Não vale a pena, só vai encravar. – continuou o recolector.
Mas é só tentar! –disse novamente o cidadão
Não! – repetiu o recolector
Ouça lá, mas você está a chamar-me de estúpido?! – indagou o cidadão num tom ofendido. Você está a chamar-me de estúpido? Diga-me lá, acha que eu sou estúpido? – continuou a perguntar perante o silêncio estupefacto do recolector e o nosso. Eu e a minha irmã, pensámos por uns momentos que os dois iriam começar à pancada, ficamos assustadas com o tom de voz e o atrito que se ía instalando entre os dois.
- Ouça lá eu só estou a dizer que vai ficar encravado, mas se quer tentar, vamos tentar!
E lá tentou e de facto ficou encravado. O cidadão, bastante chateado lá se foi embora. O recolector avisou-nos de novo que nos dois blocos a seguir haviam ainda outras cabines, mas decidimos que era melhor ligar de outro sítio. Ambos claro que tinham sido bastante prestáveis, mas tinham-se envolvido num mal entendido só por causa de uma cabine telefónica...sentimo-nos um pouco mal, ao que a minha irmã até disse - Meu Deus! Agora só falta chover e apenas quando formos atropeladas por um carro é que tenho a certeza que o dia acabou!” E de facto parecia que o dia desastroso nunca mais tinha fim! Lá conseguimos ligar à minha mãe:
- Estou, sim mãe....
- Sim eu já sei – disse logo a minha mãe – um homem ligou para mim a dizer que tinha o teu telemóvel, ele foi muito simpático e disse que o iria deixar na GNR, ao pé da Alfandega, só tens que lhe dizer quem és, o teu nome e ele sabe.
- Ah, ainda bem! – respirei eu por alívio, afinal o dia até nem estava a correr assim tão mal!
- Mas ouve lá... - continuou -...tu estás em Setúbal?! – “Ops”, pensei para mim, e a primeira reacção foi de querer desligar o telefone, mas lá aguentei.
- Rapariga, o que é que vocês estão a fazer aí? Não deviam estar no parque das nações!
- Olha mãe, eu depois explico-te, desculpa lá. – e comecei a mentalizar-me do que é que ela diria quando chegasse a casa...bom, ao menos o meu telemóvel não tinha sido roubado!! Há pessoas boas neste país! Fiquei estática, mas antes de começar a lançar os últimos foguetes, teria claro que ir à esquadra recuperar e certificar-me de que era de facto o meu telemóvel. Assim, que cheguei e lhes expliquei para o que vinha, perguntaram-me pelo nome. A humiliação era tal, parecia um daqueles anúncios que diz: O meu nome é Silvia Rodrigues e perdi o meu telemóvel! Sim, fui eu!, por amor de Deus – e só faltava depois arranjarem-me uma daquelas T-shirts que dizem: Fui abandonada no gare do Oriente e fugi para Setúbal, escorreguei e molhei os meus sapatos, quase que me roubaram o telemóvel e tudo o que me deram foi apenas esta estúpida T-shirt (peço desculpa pela linguagem, mas é tal e qual). Bom e uma vez mais, lá fui...a minha vida dava um filme e 3 estrelas pelo dramatismo!
Sentei-me um pouco para respirar fundo e depois disse à minha irmã: eu agora até nem me importo de continuar com a nossa caminhada....e ela silenciosamente olha para mim com um pouco de desprezo, e faz-me uma cara que diz: Deves estar a brincar, só podes!” e logo a seguir disse-me: “E depois ainda te admiras porque é que estas coisas te acontecem a ti! Estás mesmo a pedi-las!”
E claro que me convenceu, a história ficou por aqui...para além de que teríamos que chegar ainda cedo a casa, sem que nenhum mal nos ocorresse pelo caminho.


Dias bizarros...



Os meus dias são pois intensos e vividos plenamente, esta é a faceta optimista que gosto de tirar das minhas aventuras! Aprendo com as coisas mais estranhas que me acontecem e se realmente querem uma moral para esta história, aqui vai:
“Se há alguém que ao perder o telemóvel não queira ser roubado, que venha para Setúbal!”
Em, verdade vos digo, Setúbal surpreende em todos os aspectos, pela maravilhosa paisagem, estátuas fantásticas e pessoas com um coração de ouro. Não, não são personagens inventadas, elas existem e são de SETÚBAL! Viva a provavelmente o único sítio em que pudemos viver na nossa ingenuidade e bondade pura! Viva a Setúbal!

Fotos de Setúbal tiradas por mim e pela minha irmã

1 comentário:

Sara M. disse...

ai miúda,
tu só me fazes rir! sim, pq eu te conheço e qdo leio estas coisas imagino-te mm a vivê-las e só dá vontade de rir.
e.. que sorte não teres ficado sem o telemóvel!
espero que estas aventuras acabem spe bem. :)

bjs