sexta-feira, 11 de abril de 2008

O nome das coisas

Bom meus caros, claro que não me refiro ao livro da Sophia de Mello Breyner, claro que não! Refiro-me pois, à nossa habilidade, tal como já havia abordado num post anterior “Dias típicos de seres iguais a mim”, de darmos os nomes às coisas. Que nesse aspecto, parece que somos simplesmente geniais - somos o nº 1. Ainda há pouco tempo enquanto ia numa vigem de carro com a minha família dei por mim a ter uma daquelas conversas dos tempos antigos com o meu Pai. Fiquei plenamente surpreendida quando ouvi dizer que havia um homem lá na sua terrinha que se chamava “João morrendo das dores”! Fiquei tão curiosa, que logo fui verificar se era comum nomes estranhos como aquele – e descobri que em Portugal existem vários. Basta darem uma vista de olhos no título do texto de um blog: O Joaquim Rita tem Caspa.
E pronto, não é preciso ser nenhuma estudante de psicologia para entender o impacto catastrófico que um nome destes teria em alguém, para além de todas as suas consequências psicológicas e até mesmo do foro social. Claramente, um pontapé valente no centro de toda a sua auto-estima ou integridade. Já não basta não podermos escolher as nossas famílias e ainda somos forçados a levar com um nome estranho em cima? Mas que diabo, não teremos nós direito ao nosso próprio nome?
Bom, mas claro que nem tudo é negro, há os que gostam! E quer dizer, até estamos a fazer alguns progressos, ao menos não nos chamamos todos, como à uns bons tempos atrás, de Maria e José...
Ok mas pessoal, vamos lá...sei que queremos ser originais, mas a que custo?! Julgo que tenhamos talvez, subestimado e de que maneira, a influência do poder das palavras. Dar nomes às coisas é atribuir uma forma, um conteúdo, uma auto-imagem...porque acima de tudo o nome evoca, sugere e constrói a identidade da própria pessoa. Já para não falar de toda a componente emocional e simbólica que acarreta. Quando queremos chamar por um nome, queremos sentir que nos pertence e que o próprio nome nos ajuda a definirmo-nos a nós próprios.
Não que tenha algo contra nomes estranhos, há alguns que até são giros, mas estou claramente a falar daqueles que não se suporta nem se imagina!
Quando ouvir alguém a gritar pelo meu nome, quero que digam: Sílvia, sílvia e não: Finólila Piaubilina, Finólila Piaubilina
É por isso que tanto adoro shakespeare, ele sabe mesmo como usar as palavras e acima de tudo a escolher os nomes que utiliza, este excerto é claro um dos meus preferidos:


"Quem é Sílvia? O que ela oculta
em si, pois tudo a exalta?
Ela é pura, bela, culta
e, como não tem falta,
qualquer moço, ao vê-la, exulta.

Será doce como é bela?
Beleza inclui doçura.
Cego, o Amor, tão logo apela
a seu olhar, se cura
e hoje habita os olhos dela.

Louvemos Sílvia, senhores,
porque Sílvia supera
quanto vive, até os melhores
mortais aqui da Terra,
e coroêmo-la de flores."


Trecho de " Dois Cavalheiros de Verona" - Meu Deus, como sabe bem ao ego, embora confesse que se trate mais de um puro narcisismo do qual por vezes todos nós necessitamos. Porque só aprendendo a gostar de nós próprios é que poderemos realmente vir a apreciar na sua plenitude aquilo nos rodeia!

Mas por exemplo, ficaria no entanto tudo arruinado, se por ventura o nome por ele escolhido fosse a de: “Ursa”, como a de uma placa que belo dia encontrei quando fui visitar o Cabo da Roca:



Portugal está repleto de sítios belos e fantásticos e nós temos simplesmente a lata de dar nomes como este para dignificar ainda mais o nosso país, não é?! Ou então adoramo simplesmente nos enterter e ser gozados! E nisso - Somos o nº 1!

1 comentário:

Sara M. disse...

olá amiga,

sim, há com cada nome!! eu sou um pco picuinhas com isso e digo frequentemente: "mas quem se chama assim? que nome.." e ainda nem apanhei aqueles mais estranhos.

eu dou por mim a pensar: ainda bem que tenho o nome que tenho :) embora não conheça nenhum poema que transpire coisas bonitas como ao teu nome lol